segunda-feira, 11 de março de 2019

"Vila Aricanduva" (Crônica)


“Vila Aricanduva”

Vila Aricanduva, ou apenas “Vila”, como é conhecida por seus moradores, é um bairro simpático e bucólico, localizado às margens do Córrego de mesmo nome e faz fronteiras com Vila Matilde, Penha de França e Vila Manchester. Seu nome, Aricanduva, é de origem Tupi e significa “sítio de aíris”, um tipo de palma muito comum na várzea do rio. Existem menções sobre vilarejos indígenas e pequenas comunidades quilombolas na região datadas do século XVII.

A “Vila” nasceu, segundo pesquisas, já organizada como bairro, provavelmente entre 1902 e 1905, ainda com o nome Guayaúna (caranguejo preto, em guarani), referindo-se à estação ferroviária homônima, da antiga linha da Central do Brasil, que cortava o eixo leste e ligava o Rio de Janeiro à estação da Luz.  

Nos anos vinte, a região foi palco de treinamentos do Tiro de Guerra das tropas Paulistas e abrigou por algum tempo o então ex-presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos, que se refugiou das forças revoltosas egressas da Revolução de 1924. Estes episódios renderam ao bairro um estatus de “abrigo” e de “lugar seguro”. Anos mais tarde, a estação ferroviária passou a se chamar Estação Carlos de Campos e, com isso, o bairro gradativamente passou a utilizar seu nome oficial.
           
A Paróquia São Pedro Apóstolo funcionava como uma espécie de centro da Vila. Pequenos comércios, escolas e a maioria das residências, foram se formando a partir dela. O Externato São Pedro (atual Vicente Pallotti), hoje com 67 anos, sediou-se nestas imediações e era uma das poucas escolas particulares da então jovem Zona Leste.

Os aricanduvenses ainda podiam contar com boa diversão! Em 1948, foi inaugurado, na antiga Rua Washington Luís (atual Professor Miguel Russiano), o Cine Cacique que oferecia em suas matinês, sessões com filmes das Cias. Vera Cruz e Atlântida. Mazzaropi, Grande Otelo e Oscarito eram programa obrigatório nas tardes de domingo.

A tradição e a longevidade são e sempre foram características dos moradores e comerciantes da Vila. Quem não se lembra da venda do “seu Antônio”, da farmácia do “seu Osvaldo”, do “Colégio Caetano Cortelli”, do botequim do “Suma”, da mecânica do “Giovanni”, da “Foto Caio”, da “Fábrica dos Affonso” dos “Tênis Maracanã” e das festinhas do SAVA? O curioso casarão das “senhoras alemãs”, a “rua de lazer” e as decorações de rua para Copas do Mundo?

Hoje, tomada por novos empreendimentos imobiliários, muitas das antigas casas enormes, características da Vila, foram demolidas para dar lugar a condomínios de sobrados que abrigam acolhedoramente uma nova safra de moradores mais abastados. Mesmo assim a Vila não perdeu a sua seiva, seu DNA, sua raiz. A geração dita intermediária, hoje na faixa quarenta anos, mesmo morando em outros bairros, reúne-se periodicamente numa pequena pastelaria que os empresta a calçada para deliciosos churrascos regados a muita nostalgia.

A chegada do metrô, novas linhas de ônibus e lotações, novas (e boas) escolas, escritórios e indústrias, clínicas e consultórios, alçaram o velho bairro bucólico a um patamar mais moderno. Mas é incrível observar e, mais ainda acreditar que, com tanto progresso a Vila Aricanduva ainda pode ser considerada um “oásis” em meio à urbanização paulistana. A alma de Guayaúna jamais morreu. É, de fato, uma cidadezinha dentro da cidade. Um paraíso saudoso em meio à Zona Leste!

Rodrigo Augusto Fiedler

Voz de morador: 
“...Moro na vila desde os anos 70, já há 42 anos... Tenho muito orgulho do bairro que vi e que me viu crescer, afinal, passei toda a minha vida nele.
...Vi toda recente evolução do bairro...   a retirada dos paralelepípedos da Júlio Colaço, a inauguração do Metrô Penha mas, nunca vou me esquecer dos antigos costumes: quase todas as famílias tinham caderneta para comprar em seus mercadinhos!

por

Silvio “Alemão” Reis
 



2 comentários:

  1. Muitos abos de Vila, me entristece em ver que os novos moradores não interagem com os antigos.
    Magda Murr

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  2. Belo texto! Parabéns! A minha infância foi na Vila Aricanduva brincando com carrinhos de rolemã, pipas, balões e muito futebol no campinho. Lembro que o caminhão de gás e o de carne, encalhavam nas ruas de terra. Tempos Felizes no "Morro do Querozene"..rs

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