segunda-feira, 11 de março de 2019

"Quereres II"


"Quereres II"

Quero Clowns livres seminus nas praças públicas
Chorando, rindo, conversando c'ossilêncio
Crianças cirandeiras rodopiando por toda orla da guanabara apagada
Alumiando de si um "shine on" derradeiro
Quero vestígios de riso e gozo por lençóis amassados
e manhãs brandas iluminadas de estrelas cadentes
quero solos de guitarras bem afinadas
com teclados tocados por deuses que acordam à meia noite!
Quero Pierrots beijando Colombinas e Arlequins batendo palmas das coxias
com as facas no chão - chega de lágrimas no tablado! Ridi pagliacci!
Quero o Banjo de Bob Dylan dando o tom de uma canção de Marisa Monte nas risadas de outra Marisa...
E quem sabe Carlinhos Brown e as "cacherolas" fazendo o "samba do avião"...
Em noites enluaradas de espelho o mar e de alma o sertão!
Quero tribos migrando errantes pelos baixos viadutos em busca de contrabaixos: que se quebram na capa do London Calling e ecoam coando o grito punk nunca ouvido longe do ABC do Clemente...
Quero jovens chorões sem-vergonhas sem a vergonha de chorar os versos do Chorão que, pasmem, não morreu por eles, ou de um outro pseudo-poeta qualquer que arriscou versos adversos vindos do asfalto onde eles ralam suas caras moles e urbanas!
Quero deixar testamento, herança e epitáfio... um legado para todos que souberam apreciar a vida e a vida por cima das armações e lentes engorduradas dos óculos cansados de aulas, seminários e palestras...
Vou deixar um dia um sinal, um signo e uma marca para quem se arriscou a ver do lado de lá; por cima do muro - para quem ouviu do disco, o lado B...
É lá que está sua porção de lirismo incestuoso
De poesia sem métrica
De ritmo sem rima
De ódio sem violência
De amor sem sexo
De Deus sem cruzes ou coroas de espinhos
De países sem fronteiras
De espíritos sem baboseiras
De verdade sem filosofia
De Arte sem tintas, sem formas
De regras sem normas
De Leis sem escravaturas
Lá estão as iluminuras...
Lá está o meu pó!

Rodrigo Augusto Fiedler


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