domingo, 31 de março de 2019

"Vale a Pena"

"Vale a pena"
Acredite, você vale a pena
Não é digno de pena (a outra)
É digno de um abraço
Deve estar envolvido num laço
Onde o amor é a fita colorida
Acredite, você vale a pena
Se errou, conserte a cena
É digno de Acolhimento
De muito Amor a todo momento
Um amor que emana dos céus
Acredite, você vale a pena
Não é um impostor que bondade encena
É digno de Oportunidade
De franqueza, justiça e bondade
Uma benção que não tem o seu preço
Acredite, você vale muito mais do que a pena
Não nos cabe valorar o seu preço
Devemos, sim, apoiar o recomeço
Estar junto sem qualquer distinção
Sem julgamentos, sentenças ou segregação
Devemos estar lado a lado todo momento
Independente do dia, da hora e do tempo
Por um único motivo
És ser humano e está vivo
Acredite, você vale a pena
Rodrigo Augusto Fiedler
Homenagem à pregação do Padre Fábio de Melo

"Philip K. Dick, uma resenha definitiva"

"Philip k. Dick, uma resenha definitiva!"
Por Caio Braga, cronista e poeta. Colaborador eventual das Páginas Psicoversos - Palavras em Cena!
Se tem um cara que eu posso chamar sem medo de errar de visionário é o grande Philip K. Dick, o escritor de ficção científica mais adaptado pras telas (grandes e pequenas) até o momento.
Em sua época o cara não obteve grandes retornos financeiros dos seus 44 romances e 121 contos, chegando a viver de ração de cachorro uma época, além da paranóia constante, em parte fruto das metanfetaminas que sempre gostou e turbinavam seu ritmo frenético de produção, que começou em 1955 e só parou com sua morte em 1982.
A crítica especializada o denominava como um adepto do "sci-fi soft", aquele com menor preocupação no detalhamento tecnológico (como nos livros de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, só pra citar os mais conhecidos) e mais priorizado no aspecto psicológico (e até filosófico) dos personagens e da trama em si. A maioria de dos seus protagonistas eram homens perturbados ou perdidos, moralmente dúbios, nunca heróis nem tampouco vilões, caras com relacionamentos conflituosos com as mulheres (como ele próprio, que se casou três vezes) e que lutam desesperadamente pra conseguir manter a sanidade em meio a um mundo caótico.
Temas como a paranóia estatal (que ele sempre vivenciou real ou imaginariamente), a inteligência artificial, as drogas alucinógenas, a existência de Deus e o conceito de realidade são constantes na sua vasta (e pouco publicada no Brasil) produção literária, a qual se tornou uma infindável fonte pra roteiros de filmes e séries televisivas.
E pra quem estiver afim de adentrar na sua obra indico alguns títulos ótimos e bem emblemáticos das suas idéias pra começar:
- Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas? (que deu origem ao clássico filme Blade Runner)
- Um Reflexo na Escuridão (também otimamente adaptado para o cinema como O Homem-Duplo)
- Os Três Estigmas de Palmer Eldritch
- Realidades Adaptadas (coletânea de contos famosos adaptados para o cinema como Minority Report, O Pagamento e outros)
Já no quesito das adaptações fílmicas e televisivas, afora os já citados acima, indico também a excelente série antológica do Channel 4, Philip K. Dick's Electric Dreams, no qual todos os 10 episódios variam entre bons e ótimos, além do elenco estelar e altamente competente.
E pra finalizar esse convite aos mundos fascinantes e assustadores do senhor Dick, fico com uma frase dele que resume bem sua obra e também os tempos sombrios que estamos vivendo (e que ele profeticamente já alertava sobre há 50 anos):
"A realidade é aquilo que quando você para de acreditar, não desaparece."
Caio Braga

"A Lei do Retorno"

Putz!
A tal da "Lei do Retorno"...
É interessante como para alguns religiosos de plantão, essa Lei Universal, se confunde com outra Lei: De Talião. Esta segunda previa "Olho por Olho, Dente por Dente" - em outras palavras, "Aqui se faz, aqui se paga".
Eu acredito que com Revelações Espirituais de um nível menos rústico e mais acessível, como Cristo, Gandhi, Dalai Lama e Kardec, esta(s) lei(s) caíram por terra e o que vale hoje é o Amor e seus derivados (respeito, fidelidade, lealdade, solidariedade, fraternidade, caridade, empatia, etc.). Não é possível que ainda existam pessoas que creem que Deus permite vinganças cósmicas e cármicas em tempos de Perdão.
Quando disse à Prostituta: vá e não peques mais, Ele não disse: vá, não peques e fique de olho bem aberto porque em breve tu terás que pagar ao Universo todo mal que a ele você fez... Bah! Coisa de gente tacanha, que não entendeu os propósitos destes reveladores que citei acima, entre outros, Santo Agostinho, Santo Ignácio de Loyola, Papa João Paulo 2, Madre Tereza de Calcutá, Francisco de Assis, etc...
Porra! Essa gente toda encarnou na Terra para falar de Amor e não de vingança! Não há essa de condenação para quem os segue.
O maior (na minha concepção) destes mestres todos que por aqui passaram, através da boca de seu Apóstolo Paulo nos diz:
"Condenação nenhuma há para aquele que está em Jesus"...
Acho que a turminha do "toma lá, dá cá" precisa estudar um pouco mais sobre as doutrinas consoladoras deixadas por tantos mestres que por aqui viveram!
Reflitam!


Rodrigo Augusto Fiedler

"Psicoversos"



"Psicoversos"
Versos egressos de uma forma de ver o entorno
Versos que não dão retorno
Às vezes, mensagens
Formam imagens
São como colcha de retalhos, descritivos
Falam sobre a vida e suas cenas, incisivos
Podem ser neuróticos
Caóticos
Podem ter rimas, ou não
Podem ser homenagens ou Acrósticos
Podem não ser nada
Podem se confundir com piadas
E também levam a pensar
Divagar
Refletir, se fechar
Quem sabe chorar!
...
Psicológicos
Ao mesmo tempo descompassado ou lógicos
Cheios de sentido ou totalmente ilógicos
São Palavras em Cena
Cenas do cotidiano
Deste existir ora ameno, ora mundano
São versos feitos com toda a alma
Todo sentimento
De quem não se prende a um único momento
São apenas
Palavras em cena
Quem decide se aplaude ou vaia
Ou algo que o valha
São os personagens tirados de trás das cortinas
E trazidos ao palco de palavras
Sãs, confusas ou insanas
Palavras que tu mesmo emanas
Para meus poemas formar...
Rodrigo Augusto Fiedler

sábado, 30 de março de 2019

"Ecumenismo"

"Ecumenismo"
A prática pode ser de joelhos
Com olhos marejados
Tristes e vermelhos
Pode-se estar deitado
Falando ou calado
Meditando ou entusiasmado...
Pode-se crer na Cruz
O Mestre pode até ser Jesus
Aquele que morreu no calvário
Mas pode ser outro culto, quem sabe vários
Pode-se crer em Oxalá
Em Ogum, Iansã e Yemanjá
Pode-se fazer oferendas
São válidas todas as crenças
Quando se toma o coração
A mente e o espírito em oração
Fé...
Existe no Oriente milhares de Hinduístas
Outros procuram templos Budistas
Milhares de deuses convergindo uma mesma meta
E a nossa seta, deve ser encaminhada para o bem
De nós mesmos, de quem amamos, qualquer outrem...
Existe neste vasto universo de crenças
Infinitas possibilidades de bençãos
Não vale só o que tu pensas
É necessário respeitar, do próximo, o ritual
Desde que pregue o bem e se distancie do mal
Existe quem segue o Alcorão
Seus versos magníficos
Que também derivam de Abrahão
É a voz de um Deus que pode se chamar Allah
Javé, Jah ou quem sabe Jeová
É a voz de Krishna, Ganesha, e outros deuses de lá
É a mão estendida por Olorum e Orumilá
Representada pelas forças da natureza
Que também tem suas belezas
Curas e santidades
Os indígenas e suas entidades
Curas oriundas da floresta
Muitas vezes é o que resta
Para um cético se apegar...
Estas todas poderiam e deveriam ser uma única religião
Um Deus uno que une a multidão
Que não funciona como o tal do ópio
Não aceita discursos de ódio
E atende sem cobranças até
Aquele que tem dificuldades com fé...
Esta é a proposta antropológica da religação
Do homem criatura, com o Deus criador
Não carece de rótulos, nem tampouco de religião
Basta crer que há algo maior, amantíssimo e cuidador
Um Poder Superior
Que nos restaura a vida, os planos e cura toda dor...
Rodrigo Augusto Fiedler

"Esperança"

"Esperança"
Acreditar com fé que dias melhores virão
Não ficar parado, lutar à exaustão
Praticar movimentos contrários
Observar com atenção os horários
Itinerários
A lida dos operários
Não se fechar como quem se tranca num armário
Não viver de saudades e relicários
Reagir!
Apostar tudo que se tem num dia maravilhoso
Não se permitir ficar ocioso
E crer que, logo mais, pela manhã
Há de nascer um novo amanhã
Que as chances e oportunidades
Advindas das forças internas
E até das divindades
Vão se transformar em ferramenta
Para que a ação não seja tão lenta,
Para uma nova história
Construir!

Rodrigo Augusto Fiedler

"Angústia"

"Angústia"
Aquela dor que arde no peito
Acelera o coração descompassado
Parece que nada pode dar jeito
Não são atendidos meus pleitos
E me sinto, por extremo, sozinho
Com todos sentimentos em desalinho
Desesperado!
Angustiado, à espera de mil respostas
Que não estão nos caminhos
À mostra
Tudo se faz oculto e secreto
Mesmo com a certeza de um caráter reto
Não consigo enxergar uma luz...

Rodrigo Augusto Fiedler

"Insônia"

"Insônia"
O sono leve desperta toda hora
Revira-se na cama em busca de posição
Mente a mil por hora
Um oceano de preocupação...
Um olho aberto, outro fechado
Qualquer barulho rouba o sossego
Mantenho-me acordado
Com frio, solitário e com medo...
Não consigo atingir concentração
O descanso não me contempla a noite
Fico como um vulcão em breve ativa
Em vias de erupção...
As luzes da cidade, mesmo que poucas
Entram pelas frestas da janela semiaberta
Transformam minha noite numa coisa louca
Horas a fio numa noite incerta...
Não consigo encontrar a paz
Nem o Rivotril é eficaz
Nada faz meus olhos pregados
Passo mais uma noite acordado...
Não tenho como me desligar da cruel realidade
Acusações que fogem à verdade
Me sinto verdadeiramente impotente
Sem defesa, sem argumentos, como se não fosse gente
Quero gritar socorro
Quero apenas dormir
Deixar o sono fluir
Para enfrentar o amanhã
Que impreterivelmente pela manhã
Vai dar seu "Olá" de bom dia...
É terrível ser prisioneiro do assédio moral
De ameaças de todo tipo que me fazem tão mal
E corroem minhas ideologias
Minhas ideias libertadoras
Minhas Filosofias
Afetuosas e Acolhedoras...
Estou perdido na veracidade das minhas crenças
Não exatamente que eu vença
Só queria ser compreendido
Não ser preterido
Nem confundido
Com alguém que faz um mal qualquer...
Não sou do mal e todo mundo sabe disso
E quem sequer se deu a chance de me conhecer
Insiste piamente nisso
Roubando meu descanso
E por mais que eu tente ser sereno e manso
Permaneço sem dormir...
Rodrigo Augusto Fiedler

"Maquiagens manchadas"

"Maquiagens manchadas"
Calado corre triste no tablado
Não se ouvem palmas
Alguns arriscam vaias
As lágrimas mancham a densa maquiagem
E toda aquela traquinagem
Sem graça, não fez jus ao espetáculo
Piadas sem graça que sequer alegra crianças
Um programa infeliz que não atingem só a infância
O riso de fato se fez bem escasso
E no picadeiro, o pobre palhaço
Baixa a cabeça sem reverência alguma
Era melhor que atendesse o pedido: suma
E voltasse pra trás das cortinas vermelhas
...
E o picadeiro ficou vazio
Na platéia nem um pio
O que era pra ser uma agradável comédia
Findou-se em lamentável tragédia
Ninguém riu do coitado
Que tanto havia ensaiado
Para ser o astro da noite...
Não se era possível voltar lá de trás
E tentar acontecer dentro do que melhor ele faz
Naquela noite vazia, não havia inspiração
Nem se colocasse a cabeça na boca do leão
O palhaço se pôs a chorar
Foi para um canto encontrar
Um abrigo
Quem sabe um ombro amigo
Para "amanhã" recomeçar, pois
Com dor ou alegria
O Show tem que continuar...

"O Jogo"

"O Jogo"
Jogos de cartas marcadas
Escolhidas a dedo, pouco embaralhadas
Resultados previsíveis
Street Flashs impossíveis
Tem sempre alguém que ganha a jogatina
O perdedor, à míngua, desatina
Sua derrota com dívidas impagáveis
Prejuízos sem par, inimagináveis
Mas continuam rolando as cartas
E as tentativas são as mais fartas
Colocam-se todas as fichas e apostas
Esperando quem primeiro mostra
A combinação de naipes que leva a vitória
Já gravada na memória
De quem arriscou jogar...
Assim é a vida de muita gente
Arriscando resultados advindos da sorte
Mas que conduzem à própria morte
Do sentido da esperança
Aniquilam a confiança
E o cheiro de derrota permanece no ar...

quarta-feira, 27 de março de 2019

"Pilar"

"Pilar" (Homenagem à turma da Moóca)
Há mais de vinte anos recebendo o recém-chegado
Lugar estreito, de abraço apertado
Para os "azuis" já se tornou referência
Quem o conhece faz grandes reverências
Salva vida como poucos
Atende doentes, carentes e até loucos
E suas portas não fecham jamais...
O café está sempre quentinho
E a gente senta bem apertadinho
Faz-se a troca de calor humano
Recebe o PS lá de outro Plano
E não desampara ninguém...
Pode-se partilhar sem restrições
Existe um profundo respeito pelas Tradições
E há sempre alguém oferecendo um brilho no olhar
Ninguém vai lá pra julgar...
Sinta-se em casa, definitivamente
Envolvido pela frequência de um monte de gente
Que vem, às vezes, de longe, para se Recuperar!
Rodrigo Augusto Fiedler

"Tatuapé"

"Tatuapé" (Homenagem à turma da Zona Leste e Região)
É um ponto de chegada
Basta subir uma escada
E encontrar um grande banquete de apoio e Literatura
Age de forma simples e pura
E não fecha suas portas jamais..
Fim de tarde, à noitinha e corujão
Tem sempre alguém estendendo a mão
Para mostrar que pode dar certo
Que a qualidade de vida nunca esteve tão perto
Basta aderir à Terceira Tradição...
Fica num ponto centralizado
Funciona em horários variados
Atende quem trabalha
E acolhe o desempregado
Oferece através da coletividade
Um ambiente de felicidade
Um clima de muita vitória
Que pode mudar sua história
Se você se juntar a nós...
Temos abordagem, orientação e segurança
Servidores e membros de plena confiança
Tem gente que se desdobra em mil
Para não deixar nem por um fio
Que a mensagem fique parada
Estagnada
Engessada
Muda e calada...
Lá a mensagem tem movimento
Prioriza o hoje, o agora e o momento
E se minha mente ainda não está sã
Basta voltar amanhã
Com a certeza notória
Que lá dentro se faz história
E que vidas se podem salvar...
Rodrigo Augusto Fiedler

"Raios de Sol"

"Raios de Sol" (Homenagem à turma da Vila Formosa)
Aprendi com a prática, amar
Todos os sábados estou neste lugar
Buscando estar com meus iguais
Renovando meus ideais
E acreditando que há de dar certo!
E mesmo que não seja tão perto
É lá que o Amor se reúne
Se há erros, vêm sinalizações, ninguém pune
Pelo contrário
Sempre, ou quase sempre, no mesmo horário
É lugar de estar com Deus
De renovar os planos meus
E me manter mais um dia ativo
Ter a certeza que limpo e vivo
Posso vir a ter muito mais
Do que a tal promessa de libertação
Nos dada no dia do ingresso
Ninguém se preocupa com seu currículo pregresso
E o que vale é o que somos hoje, dentro do agora
E o que vamos fazer na aurora
Pra renovar nossos votos de vida plena
Que, no Raios, não saem de cena
Estão sempre lá acolhedores
Membros, famílias e até servidores
Que nunca se faltam ao Abraço
Nem tampouco se esquecem dos Passos
E que nos mostram com muita qualidade
Num ambiente de pura humildade
Que caminho seguir!
Obrigado!
Rodrigo Augusto Fiedler

"Nova Leste"

"Nova Leste" (Homenagem ao lugar que tanto salva a minha vida)
É lá que me escondo e me protejo dos perigos
É lá que tenho meus melhores amigos
Um lugar que vou quase todos os dias
Desvendar da minha mente insana tamanhas fantasias
É lá que faço a minha Oração
E tem sempre alguém que me leva pela mão
Não deixando eu tropeçar...
Funciona quase todas as noites
Está lá para livrar-nos dos açoites
Que a implacável doença insiste
Com sua "inteligência" em riste
Tanto nos maltratar...
É um lugar de acolhimento
Pronto a todo momento
A quem sofre receber
Pode ser Recém-Chegado
Ou aquele que aos nossos braços retorna
O importante é que todos são amparados
Numa Espiritualidade que orna
Em torno do Propósito Primordial
Que já acontece de forma natural
Existe um compromisso no ar
Em acolher sem nada cobrar
Em dar um afago, um sorriso e abraçar
Todos aqueles que necessitam de confiança
E que buscam entre nós esperança
Coisa que certamente podemos dar
(E doar)
Uma equipe de pessoas abnegadas
Que não permite que pessoas sejam enganadas
Lá se fala a verdade
Se pratica a lealdade
Para que todos possam voltar!
Rodrigo Augusto Fiedler

"Novo Amanhecer" - Homenagem ao companheiro "W. L."

"Novo Amanhecer"
Portas abertas desde bem cedo
Protegendo todos aqueles que ainda sentem medo
Há espaço para falar
Há espaço para ouvir
Só não se pode deixar de ir...
Tem abraço, tem partilha e tem café
Não é uma igreja, mas é um lugar de fé
Que abriga no fim da madrugada
Quem anda de cabeça abaixada
E precisa apenas de um acolhimento
Que pode ser a qualquer tempo
Para se recuperar o momento
Dito perdido no dia de ontem...
Acordar logo cedo e ir cuidar de si mesmo
Sair da mesmice, da preguiça e do esmo
Encontrar Passo, Conceito e Tradição
Estar junto de quem lhe estende a mão
Fazer o movimento contrário
Não deixar guardado num relicário
Os objetivos de Recuperação...
Enfim este é o "Novo Amanhecer"
Um cantinho do Céu nesta Terra tão inóspita
Um espaço em que se pode crescer
Abandonando características impróprias
Duas horas certas a se vencer
Toda mania hipócrita
E derrubar a máscara do palhaço
Tudo em pleno anonimato, sem estardalhaço
Um lugar que mesmo que não haja ciência
É tomado pela coletiva consciência
E se mantém o propósito primordial
De levar àqueles que sofrem
Muito mais que um acolhimento legal
Um lugar que se planta Amor
Que se colhe o humano calor
Vence-se qualquer dor
E nos dá a chance de começar o dia
Pautado em muita alegria
Numa mudança de história
Que tem sempre cheiro de vitórias
E que vale Só por Hoje!
Rodrigo Augusto Fiedler

terça-feira, 26 de março de 2019

"Acusação"

"Acusação"
Começa-se por um boato
Cai de forma vil nas mãos da população
Pode existir de tudo, menos o fato
E alguém com dedo em riste, altera a voz: acusação
Não adianta ter provas de ordem moral
Parece que para o povo quanto pior, melhor
Mesmo sem evidências ou algo factual
Transformam o que antes eram lutas, agora em suor
A sociedade se basta de pouco para exercer seus julgamentos
Não se avalia, de longa data, uma antiga história
Apega-se num mal entendido do momento
E faz de você um membro da escória
Sem defesa
Sem certeza
Sem beleza
Sem destreza
Confunde mentes inocentes às incertezas
E tudo acaba pairando no ar...
Um ar que não se respira
Um ar que das narinas se tira
Um ar sem ar que sufoca
Um ar medíocre recheado de fofocas
Um vácuo total e absoluto
Que faz de nossa felicidade, um luto
Que pouco se preocupa com a verdade
Com provas reais, com a veracidade
E que nos deixa ao Deus dará...
Mas o importante mesmo é o que mora na consciência
Aquilo que jamais observamos com complacência
É importante saber dizer: Não!
Mesmo indo a passos largos na contramão
Daqueles que insistem de forma cruel
Trazer-nos à boca o amargo do fel
E destruir com seu ódio e Intolerância
As crenças e o caráter adquirido na tenra infância...
E fazer de mim ou de quem sofre um ser bruto
Sem chances a um diálogo mútuo
Só nos resta então, uma certa esperança divina
Que não se encontra nas esquinas
Uma esperança que vem do fundo da alma
E que aos poucos nos devolve a calma
E nos absolve da Acusação!
Rodrigo Augusto Fiedler

sexta-feira, 22 de março de 2019

Mozart versus Salieri - Mito ou Verdade

Curiosidade!

No mundo, em toda sua existência, algumas músicas atingiram estados transcendentais, ou seja, são de um poder espiritual muito grande e possuem em suas pautas, um legado de genialidade jamais atingido por outras.

"Réquiem" de Mozart

O Concerto para Piano Número 21 de Mozart
Sinfonia Número 9 de Beethoven
A Heróica e a Pastoral do mesmo Beethoven
A Sonata ao Luar também de Beethoven
Sinfonia Número 7 de Schubert (a Inacabada)
A Patética de Tchaikovsky
Concerto Número 1 para Piano de Tchaikovsky
A Ópera Aida de Verdi

Entre muito poucas outras...
A suíte Quebra-Nozes de Tchaikovsky e o Lago dos Cisnes e nada mais...

Porém, há sobre estas peças alguns mitos, um deles e talvez o mais instigante é a real composição das últimas Árias do Réquiem. Mozart totalmente tomado pela sífilis e pela tuberculose não tinha mais condições de compor e (talvez) estas Árias finais, nas quais os Corais se fazem presentes, foram compostas em silêncio por Antônio Salieri, o tutor de Mozart que fora preterido da Corte de Viena quando Mozart atingiu seu apogeu. O bacana desta história é que nunca vamos saber se as Árias finais do Réquiem foram verdadeiramente compostas por Mozart, pois ele morreu antes da primeira apresentação da Sinfonia. Tudo indica que Salieri terminou a obra e se calou sobre o direito da composição para respeitar e reverenciar seu maior ídolo e ao mesmo tempo, desafeto!

Nunca saberemos!

"Sonata ao Luar" por Camila Rocha

Sobre "Sonata ao Luar" de Ludwig Von Beethoven

Beethoven vivia um desses dias tristes, sem brilho e sem luz. Estava muito abatido pelo falecimento de um príncipe da Alemanha, que era como um pai para ele...  O jovem compositor sofria de grande carência afectiva. O pai era um alcoólatra contumaz e o agredia fisicamente. Faleceu na rua, por causa do alcoolismo... Sua mãe morreu muito jovem. Seus irmãos biológicos nunca o ajudaram em nada, e, some-se a tudo isto, o fato de sua doença agravar-se. Sintomas de surdez, começavam a perturbá-lo, ao ponto de deixá-lo nervoso e irritado...  Beethoven somente podia escutar usando uma espécie de trombone acústico no ouvido. Ele carregava sempre consigo uma tábua ou um caderno, para que as pessoas escrevessem suas idéias e pudessem se comunicar, mas elas não tinham paciência para isto, nem para ler seus lábios...  Notando que ninguém o entendia, nem o queriam ajudar, Bethoven se retraiu e se isolou. Por isso conquistou a fama de misantropo. Foi por todas essas razões, que o compositor caiu em profunda depressão. Chegou a redigir um testamento, dizendo que iria se suicidar...  Mas como nenhum filho de Deus está esquecido, vem a ajuda espiritual, através de uma moça cega, que morava na mesma pensão pobre, para onde Beethoven havia se mudado e lhe fala quase gritando: "Eu daria tudo para enxergar uma Noite de Luar" Ao ouvi-la, Beethoven se emociona até as lágrimas. Afinal, ele podia ver! Ele podia escrever sua arte nas pautas...  A vontade de viver volta-lhe renovada e ele compõe uma das músicas mais belas da humanidade: "Sonata ao Luar" No seu tema, a melodia imita os passos vagarosos de algumas pessoas, possivelmente, os dele e os dos outros, que levavam o caixão mortuário do príncipe, seu protector...  Olhando para o céu prateado de luar, e lembrando da moça cega, como a perguntar o porquê da morte daquele mecenas tão querido, ele se deixa mergulhar num momento de profunda meditação transcendental...  Alguns estudiosos de música dizem que as três notas que se repetem, insistentemente, no tema principal do 1º movimento da Sonata, são as três sílabas da palavra "why"? ou outra palavra sinônima, em alemão...  Anos depois de ter superado o sofrimento, viria o incomparável Hino à Alegria, da 9ª sinfonia, que coroa a missão desse notável compositor, já totalmente surdo. Hino à Alegria (Ode to Joy) expressa a sua gratidão à vida e a Deus, por não haver se suicidado...  Tudo graças àquela moça cega, que lhe inspirou o desejo de traduzir, em notas musicais, uma noite de luar...  Usando sua sensibilidade, Beethoven retratou, através da melodia, a beleza de uma noite banhada pelas claridades da lua, para alguém que não podia ver com os olhos físicos. "
Mostrar menos

sábado, 16 de março de 2019

"Morena" por Caio Braga

MORENA
(Caio Braga)

Deixa seus choros pra trás, doce senhora...
Aquieta tua bolsa de dores tão tropicais e verdadeiras
Vive mais uma vez de instinto e teimosia
Como sempre fez em meio ao gingado que lhe é nato...
Não deixa teu anseio virar dor, não prega tua roupa na chuva... não fites o horizonte sem estrelas
Lembra-te dos festejos que lhe deram trabalho
Da alegria desmedida... quanta tiveste num domingo!
Corre pra receber tuas visitas e aviva tua disposição...
Em ser música colorida aos teus convivas e terno descanso aos seus
Após toda bagunça bonita que só te congratula
Não se envergonhe ao deitar com o cansaço...
Tampouco com o moreno que lhe faz companhia e prazer
Em ti depositei minhas melhores previsões e sou afortunado
Por querê-la bem e viver a contemplá-la...
Por ser um símbolo, uma deidade feita de carne e vento
E ao contemplar o amanhecer pela tua janela emperrada
Sei que não vais ver fel no horizonte
Nós temos fibra, moça...
Somos calculados pra sobreviver e cortar a cana sem arranhar a mão
Porque no fim tudo é carnaval.

Caio Braga

SONETO DA TRADIÇÃO QUEBRADA (CAIO BRAGA, POETA E CRONISTA DE SÃO PAULO)

SONETO DA TRADIÇÃO QUEBRADA 
(Caio Braga)

O tempo levou meu orgulho junto com a ânsia voraz
Que eu nunca pude mensurar na totalidade
Mas essa ausência agora me fez mais capaz
De tolerar finalmente a tão buscada Realidade...
A calma também agiu em mim com labor
Seu efeito ainda me faz atônito tal e qual
Não suspirei nem urrei em ardor
Fui então mais plácido e casual
Neste dia de luz na minha companhia
Quis o cosmos que tudo minguasse
Por isso não escolhi ainda minha via
E coloquei confiança em algo muito além
Maior que o anseio e menor que a dor
Apenas uma certeza que não se vive sem

Caio Braga

COMPARE! (CAIO BRAGA, POETA E CRONISTA DE SÃO PAULO)

Hai-Kai de Caio Braga

COMPARE
Na casa vazia ouço vozes
São amigáveis?
Lá fora há sons piores

Caio Braga


O FIM DA INFÂNCIA (CAIO BRAGA, POETA E CRONISTA DE SÃO PAULO)

O FIM DA INFÂNCIA
(Caio Braga)

Sob o sol eu vi tantas coisas e ouvi tantos mantras e preces...
Fui tantos personagens da minha própria encenação de realidade, do meu teatro particular ou público...
Vi centenas de rostos e pude questionar cada sentimento que eles me provocavam
Procurei cada o rastro dela
Rastejei em busca do sentido que perdi num sonho após o almoço, fui ao penhasco da minha memória...
E obviamente caí
Aos meus pés de novo, num loop infinito
Quando ela acabou?
Onde me despedi dos meus brinquedos e passei a ver tudo sob um funil de cinismo necessário a minha sobrevivência?
Quando ela se foi em meio ao barulho que não consegui distinguir de onde vinha e de onde reverberava?
Cadê os cadernos que continham os planos de sucesso e viagens intergalácticas?
Ficaram talvez no canto de um quarto que em algum sonho monocromático eu esqueci...
Repousam em meio aos meus grandes planos de vitória em cadernos cobertos de pó
Cadê minhas piadas inocentes que não feriam ninguém tampouco tinham graça? Cadê meus amigos do ginásio que hoje são sombras numa tela sobreposta em infinitas outras?
Minha juventude e minhas referências ainda me perseguem, porém agora com uma condescendência que antes era rara, bem rara...
Os sinos das igrejas de bairro agora são inaudíveis pois não moro mais num bairro, moro hoje numa memória, num resquício de uma velha cinza fria que teima em arder embora já tenha se apagado...
O fim da infância é só a constatação da morte...
...
O estalo que te lembra da finitude de tudo
Principalmente da sua.

Caio Braga

AEONS DE FERRUGEM (CAIO BRAGA, POETA E CRONISTA DE SÃO PAULO)

AEONS DE FERRUGEM
(Caio Braga)

O pulha que você deixou solto no seu quintal se transmutou, virou uma força cósmica
Quis independência, essa peste tão grudenta, esse mal do novo século...
Esse signo do caos, tão apropriado aos novos aeons...
Concluo que fizeram vista grossa à poesia, ditaram normas e construíram muros
Isso eles fizeram bem... delimitaram as inspirações, encaixaram soluções num buraquinho apertado, forçaram a entrada num reino inóspito...
Alcançaram a marca da imprudência. E só vicejaram serpentes.

Caio Braga

sexta-feira, 15 de março de 2019

"Trabalho"

"Trabalho"

Dias de luta, dias de esforço
Dói o corpo, curva o dorso
Mas vale a pena
É esta a cena
Pela qual devemos buscar resultado
Não podemos ficar parados
Esperando coisas virem do além
Ou se escolhe pelo mal, ou pelo bem
Não se fica em cima do muro
Nem se permanece no escuro
Pula-se cedo pra ir trabalhar...
A dedicação e o sacrifício diário
Nos traz muito mais que o salário
Nos põe em contínua atividade
Nos atribui necessária dignidade
E no fim ficamos mais mansos
Quando gozamos o descanso
Feito por merecer...
Ônibus, metrô, condução
Centenas de pessoas correndo: multidão
É a busca por tempos melhores
Que parte de dentro pra fora
É um anseio antropológico, pessoal
Uma atividade corriqueira e natural
É a roda da vida
Que embora sofrida
Também tem seu prazer...

Rodrigo Augusto Fiedler

"Marielle vive..."

"Marielle vive..."
Vive no silêncio abafado
No pensamento de quem anda calado
Na carência de quem precisa ser representado
Mas que agora está à deriva
Queremos a voz de Marielle viva
Queremos justiça social...
Vive na memória recente
Assassinato absurdo, atentado indecente
Feriu os sonhos de muita gente
Deixou comunidades inteiras fadadas ao desamparo
Encontrar alguém par há de ser raro
Queremos a voz de Marielle viva
Queremos justiça social
Vive para sempre nas vielas da Maré, da Ilha e do Fundão
Sua voz ecoa em Cordovil, Vidigal e no Alemão
Em Braz de Pina, Penha, Vila Vintém e Engenhão
De Dentro, de Fora, Méier, Jacaré e Jacarezinho
Santa Tereza, Lapa e por todos caminhos
Que na busca por justiça e igualdade
Se privam da lealdade
Da mulher que não podia cá
Queremos a voz de Marielle viva
Queremos justiça social
Negros, gays, nordestinos e favelados
vítimas da agressiva exclusão
Marielle dizia: Não!!!
Mas agora ela foi calada
A população está sendo abandonada
Sofrendo com o peso da mão
Desferida por milícias e pelo "cão"
...
Queremos a voz de Marielle viva
Queremos justiça social
Não podemos permitir que um boçal
Apague a memória dela
Que a compare com uma cadela
Sem raça, sem dono, sem nada
E sabemos todos, mesmo morta não está calada
Sua história está imortalizada
...
Queremos a voz de Marielle viva
Queremos justiça social

Rodrigo Augusto Fiedler

"De quem é o Palco?"

"De quem é o Palco?"

Clowns, palhaços, mágicos e equilibristas
Atores, músicos, poetas e outros vários artistas
Gente que brilha até sem purpurina
As óperas, os concertos, e os balés com suas dançarinas...
O palco é de quem merece nele estar
Que sua frio de tanto treinar
Que ensaia sua arte de noite e de dia
Que mostra a Tragédia, com um quê de alegria
Que faz Comédia sem cair no "pastelão"
Que deixa suas lágrimas escorrer pelo chão
Que se curva ao soar de aplausos e palmas
Que vive sua arte no corpo, na mente e na alma...
Muita gente merece sair de trás das coxias
Experimentar o nervosismo das barrigas frias
Gente que nem artista é
Gente que aposta com fé
Que pode oferecer seu melhor...
Muita gente aplaude de pé, ovaciona
outros se calam e criticam quem se emociona
São pessoas movidas a mundos pequenos
Que não capazes de ir aos extremos
E assim sendo, vaiam aspirantes
Os coloca, Ato em Cena, no Inferno de Dante
E os conduzem à morte
Ao tombo do palco
À falta de sorte...
Mas quem tem brilho levanta do tablado
Reassume o "diálogo em cena"
Mostra pra massa imbecil que é esforçado
Que não é digno de pena
Nem tampouco das vaias ou do desprezo
Que infelizes emanam sem dó
Pela inveja valorada sem preço
que há de levá-los ao pó...
Não há lugar na plateia para este tipo de gente
Pequenos, invejosos, egoístas e boçais
A plateia é um lugar de orgulho
Para quem assiste, pede bis e quer mais!

Rodrigo Augusto Fiedler

quinta-feira, 14 de março de 2019

"Noite"

"Noite"

Noite úmida e fechada na penumbra
Nevoeiros baixos que não nos permite ver as esquinas
Muito menos as fáceis meninas, que se vendem por um troco qualquer

Noite escura de aspecto solitário
Cheia de andarilhos, moradores de rua, bandidos e salafrários
Microcosmo de um Poder desempossado
E o povo reage calado
Com medo de caminhar...

Noite muda, silenciosa, obtusa
Que se faz surda aos poucos sons de buzina
Bem diferente do que se imagina
A cidade que também não dorme
Oferece atentados torpes
E nos faz ter receio em falar...

Noite oblíqua, transversal e onipresente
Recebe em si todo tipo de gente
Que procura no apogeu da escuridão
Uma fuga para a insônia e a solidão
Mas não se deve andar por ela
Os riscos hão de deixar sequelas
É bem melhor tentar dormir...

Noite, que outrora foi o cenário dos apaixonados
Hoje ostenta bem mal acabados
Cabarés e bordéis bem mal frequentados
Drogas e pedintes por todos os lados
A noite enfim se perdeu...

E nem a oração sem fé de um ateu
É capaz de trazer um livre espectro de mudança
Acender lamparinas de esperança
Para que nela possamos conviver...

A noite morreu de frio, de fome
De descaso e de overdose
Morreu à míngua
E nem que eu falasse mil línguas
conseguiria este ocaso entender...

Rodrigo Augusto Fiedler


"Versos Esparsos de Edison Vargas" (Colaborador do Blog Psicoversos - Palavras em Cena)

"Versos Esparsos"

Comportamento anti-social
Sem padrão humano
Sem patrão na vida
Pré fixou uma nova era
Sangue humano no corpo
De tanto sangue doado
Imaginação criativa
De olhos que enxergam tanto, em tão pouco
Impondo seu ritmo na melodia da vida
Que por esta sociedade hipócrita é ignorada.

Mundo desconhecido, ou factual
Este nosso pedaço de chão pré estabelecido, quando morremos.
Quando vivemos, somos pessoas pessoas marcadas
Pelas intransigências de tantas outras pessoas;
Que vivem rotulando outras tantas pessoas
À partir do momento que não seguem
Estes conceitos sociais pré estabelecidos.
O homem vive, ou deveria viver para que
A ordem dos pré conceitos fosse quebrado
E que assim então seja possível
Viver sem um modo de vida pré estabelecido.

Edison Vargas é Contador, Historiador e Poeta nos tempos livres.
Mais um colaborador do Blog Psicoversos - Palavras em Cena

"Pedagogia do Abraço" (Artigo Acadêmico sobre uma Práxis Pedagógica)

Pedagogia do Abraço
ou
Como utilizar um simples abraço na práxis de inclusão psicopedagógica.

A cada dia que passa, deparamo-nos cada vez mais com alunos portadores de necessidades especiais em nossas salas de aula. Essa curva crescente pode ser explicada por diversas teorias, que vão da problemática da dependência química entre pais, encostando até numa realidade socioeconômica incapaz de prover alimentação consistente, eficiente e de qualidade  para nossas crianças, impactando perigosamente no seu desenvolvimento biológico e intelectual.
Todavia, nem só crianças portadoras de “evidentes” necessidades especiais (surdez, cegueira, subnutrição, Síndrome de Down, paralisia infantil, entre diversas outras), são percebidas de forma também crescente nas salas de aula: há um crescimento bastante interessante (alarmante) na população de crianças hiperativas no ambiente escolar; e, esta criança merece, certamente, no mínimo a mesma atenção (quanto a quantidade) e a abordagem pedagógica competente (qualitativamente) para não só a realização de diagnósticos envoltos à causa, mas ligados à solução e/ou adequação desta criança em todos os anais acadêmicos que ela tem direito (ECA).
Neste texto, sugeriremos uma práxis bastante simples para o desenvolvimento de um processo convalescente objetivo e focado em resultados práticos e perceptíveis numa cronologia de curtos e médios prazos: “A Pedagogia do Abraço”.

A Pedagogia do Abraço na Escola Contemporânea

Hoje em dia, sabemos que as novas gerações de crianças estão, cada vez mais, fadadas a problemas ligados à carência. Carência econômica, estrutural, espiritual e principalmente afetiva.
Os problemas inerentes ao cotidiano (desemprego, alcoolismo, materialismo, ambição, ganância, fome, exclusão social e intelectual, etc.) oscilam por todas as camadas sociais e impactam na criança da mesma forma – ao passo que crianças abastadas não sofrem de fome ou de estresse familiar decorrente do desemprego, problemática comum às comunidades periféricas dos grandes centros, sofrem carências ligadas ao abandono causado pela ganância, pela ambição, pelo egocentrismo materialista dos pais que, muitas vezes priorizam suas carreiras profissionais aos cuidados afetuosos necessários aos seus filhos, e vice-e-verso. Consequentemente, temos um problema transcendente ao cenário econômico, temos um problema afetivo-social.
Uma vez que não se trata de problema econômico, ou exclusivamente econômico, parece mais fácil a busca por soluções. Sabemos que a vida comunitária da criança, seu macro habitat, é trino e consiste no lar, na escola e na comunidade em geral. Aplicando um ingênuo processo de eliminação e entendendo ser certo o foco dos problemas no lar – junto da família, ficamos com outros dois nichos, interligados é verdade, para a aplicação da prática curativa (ou atenuante) que se faz mister na formação de jovens menos problemáticos, mais autônomos e mais seguros: a escola e a comunidade. A comunidade é muito ampla, muito heterogênea e muito inconsistente – é nela que ocorrem as mudanças sociais de micro e macro espectro, é nela que os acontecimentos civis têm sua importância; é na comunidade que o foco sobre o coletivo vem antes do individual, logo, descarta-se também. Sobra-nos a escola, que já chega embasada num sustento ideológico, numa obrigação constitucional de formação, de aperfeiçoamento e de inclusão; é nela que devemos aplicar a Pedagogia do Abraço, sob a batuta dos professores - tão nobres substitutos (e aliados) dos pais na árdua arte de educar.

Terminologia do “Abraço”

Todos sabemos que abraçar significa abrir os braços e receber outrem a si; significa juntar ao peito alguém que queremos bem; segundo o Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa  “abraço” significa 1 apertar(-se), cingir(-se) com os braços.  2 cercar, rodear.  3 abranger, conter.  4 entrelaçar-se, o que nos leva  a refletir na dimensão deste ato, que de tão utilizado pelas sociedades civilizadas, tornou-se quase vulgar. Vejamos a abrangência do abraço: com ele podemos unir, receber, proteger, abranger, somar e principalmente INCLUIR num mundo então particular – o eu – alguém muitas vezes carente e perdido.
Abraçar, dentro desta pedagogia, nada mais é que trazer o aluno para o meio comum, incluindo-o afetivamente num mundo mais brando, mais protegido, mais unido, mais abrangente e mais humano.

Metodologia e Práxis Cotidiana

Praticar a Pedagogia do Abraço, consiste em cumprir à risca as premissas necessárias para exercer qualquer função acadêmico-educacional, ou seja, ser consciente da importância da tarefa de formar seres sociais e pensantes, que jamais podem ser discriminados, menosprezados, mal influenciados e negligenciados sob qualquer hipótese.
Em a Pedagogia do Abraço, o professor, além de assumir um compromisso com o intelecto do aluno, o que já é previsto, passará a se responsabilizar pela inclusão deste aluno numa realidade afetiva, onde a emoção vale o mesmo que a razão, onde não haverão crianças relegadas a um segundo plano, onde todos serão tratados com prioridade e até emergência, onde o diálogo, o contrato e o abraço far-se-ão constante mister como objeto da convalescença da problemática da exclusão e da carência.
Alunos famintos de amor serão saciados.
É importante lembrar que esta proposta pedagógica embora semelhante, não é a Pedagogia do Amor (de Gabriel Chalita, nosso eminente Secretário da Educação); nem tampouco trata-se de um plágio. Pedagogia do Abraço é uma ferramenta adicional no processo pedagógico geral, que claro, recebeu uma influência bastante aguda da proposta sugerida pelo nosso brilhante Secretário. Pedagogia do Abraço é talvez um dos endossos que processos mais abrangentes, como por exemplo a Pedagogia do Oprimido, poderia receber – uma extensão na questão da inclusão.
A metodologia deste processo pedagógico é muito simples: a princípio, basta muita atenção e interesse para que em primeiro lugar, se possa identificar, conhecer e diagnosticar os grupos de alunos, tal qual perceber as carências inerentes ao coletivo, ao grupo e ainda prever que perfil de consciente coletivo poderá vir a formar-se por aquela união de indivíduos; em segundo lugar, dar-se a chance de conhecer o aluno, um a um, não apenas dando-o a chance de dizer o nome, idade e donde veio (como é comum nas escolas até hoje), delegar ao aluno voz e atitude, permitindo-lhe a expressão, a autonomia e a transparência, discutir o repertório disciplinar com eles e verificar qual e como foi sua aceitação, pesquisar junto ao aluno, enquanto indivíduo qual é a sua origem e extrair das entrelinhas, quais carências cada um trás para dentro da escola. E por fim em terceiro lugar, elaborar um plano de ação que os faça cúmplices do processo educativo e pedagógico – o contrato – sempre envoltos numa práxis pedagógica afetiva onde a intimidade e o “calor humano” do abraço tenham a mesma importância do giz e do quadro-negro. Abraçar literalmente TODOS os alunos, levar até eles este gesto é então a espinha dorsal deste trabalho. Tudo aqui consiste não só em metáforas ou linguagens subjetivas, mas em toque físico, aperto ao peito, entrelace, união e carinho verdadeiro.
Todos alunos devem ser abraçados igualmente, com a mesma força, intensidade e durabilidade – o abraço democrático – que atua no indivíduo mas atinge o todo, entretanto, não se deve esperar devolutivas páreas; cada aluno responderá de uma forma, alguns, os mais comprometidos, seja pela hiperatividade, seja por uma agressividade psicopatológica ou ainda introversão e timidez poderão sequer aceitar o abraço do professor, que deve insistir e persistir, tendo justamente nesses alunos o compromisso/desafio tema de toda esta pedagogia.
O abraço propriamente dito deverá ser ministrado em todas as aulas, por todos professores, no início da hora-aula, de preferência, e repetido se necessário com aqueles que estiverem ainda mostrando-se ou sentindo-se excluídos do universo “contratado” para aquela sala de aula. Foi pensada também a possibilidade de um “momento do abraço” semanal, onde as crianças quebrariam suas vergonhas e abraçariam seus coleguinhas numa espécie de ritual ligado ou à inclusão espiritual, ou reflexiva dos alunos – a sugestão é que este momento seja nas aulas de Educação Física.
Com esta pedagogia em prática, espera-se minimizar a questão da carência afetiva como fator de dissociação da capacidade intelectual e racional dos alunos e ainda transformá-los gradativamente em cidadãos cada vez mais humanos, solidários, participativos e amorosos. É então o abraço, fator preponderante na construção de homens e mulheres que possam dar mais do que receber fazendo assim objetivadas as premissas iniciais da Pedagogia da Libertação e do Oprimido (Paulo Freire).

Carência, Hiperatividade e Abraço

Uma das causas do comportamento hiperativo é a carência afetiva (assim como outros fatores, sejam eles ligados à dislexia, a problemas neuro e psicopatológicos, etc.) e talvez seja esta carência, a causa principal. O professor bem preparado é capaz de exercer este diagnóstico – descobrir qual origem e qual o grau da hiperatividade daquele aluno, e com isso elaborar um plano de ação competente e certeiro para que o problema seja, se não erradicado, ao menos atenuado.
Além da hiperatividade, a carência afetiva, é responsável por um desenvolvimento nocivo na vida da criança – o embrutecimento emocional. É comum vermos crianças cada vez menos lúdicas, aspirando a comportamentos adultos, sem o brilho pueril original nos olhos e demasiado interesse pela violência ou por resolver suas crises através dela. A Pedagogia do Abraço pode ser considerada uma medida profilática nesses casos.
Sabemos que a sabedoria popular nos diz, que um abraço bem dado vale mais que  mil palavras e tem um poder confortante sem igual – quem não gosta de ser abraçado ? – então porque não tentar a implementação de um processo tão simples que só pode nos trazer benefícios ?

Referências Ideológicas

O tema aqui abordado é comum aos tempos de hoje. Temos diversas personalidades falando de Pedagogia do Amor, falando de aplicação prática deste amor em sala de aula, mas ainda não tínhamos nos defrontado com nenhuma teoria pedagógica que aplicasse o afeto humano através de uma práxis objetiva e metodológica, quiçá física.
O amor que tanto se professa na pedagogia contemporânea parece, às vezes, algo ideológico, metafísico e subjetivo...  algo como aplicar o amor na atividade, fazer com amor, ser amoroso, etc., etc. Aqui falamos de dar abraços para incluir as pessoas – no peito e na sociedade que sonhamos . É objetivo e subjetivo ao mesmo tempo (ver Terminologia do Abraço).
Todavia, não teríamos concebido esta proposta se não fosse:

a extensa bibliografia de Rubem Alves, sempre à cabeceira;
as reflexões de Leonardo Boff , Frei Betto e todos os outros que idealizaram a Teologia da Libertação;
Teilhard de Chardin e o existencialismo cristão;
e finalmente, a proposta pedagógica de Paulo Freire, que visa incluir o cidadão na sociedade através da educação e da autonomia.

É nossa intenção colaborar com o sucesso desta pedagogia.

Conclusão

Um abraço...  quanto vale, quanto dura ? Segundos que podem ser inesquecíveis, segundos que aquecem o coração dos carentes de afeto, de abraço, de alguém; carinho sem preço que pode bonificar alguém eternamente e transformá-la em alguém melhor.
Será que custa ?
Façamos do abraço um símbolo perene de amizade, devolvamos a ele sua importância,  desmistifiquemos sua vulgaridade e banalidade e o tornemos vital, cheio de importância.
Unamos nossos alunos a nós e entre eles, criemos grupos fortes, sem exclusões. Colaboremos com a causa da hiperatividade, com a causa dos portadores de necessidades especiais, sejamos mais. Sejamos educadores, professores, amigos e referência.

Quanto vale? Talvez toda uma geração...

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Rodrigo Augusto Fiedler