sexta-feira, 8 de março de 2019

"Pelas Ruas"

"Pelas ruas"
Cobertores sujos de muita merda
Sacos pretos pendurados em costas marcadas pela chibata do abandono
Calçadas geladas, jatos d'água
Bitucas, cinzas
Crack
Chinelas desfalecidas e arrasadas
Camisetas desfalecidas e rotas
Shorts curtos, fedendo horrores
Calçadas geladas, jatos d'água
Cachimbos, isqueiros
Crack
Cabelos duros e encarapichados
Barbas longas, pernas e axilas peludas, grudentas
Caminhos longos, vias sem mão
Ninguém dá a mão
Botijas, garrafas, tragos
Pinga
Descaso, omissão, despreocupação e desprezo
Silêncio parlamentar, inércia executiva
Andarilhos solitários, vias de duas mãos
Papelotes, pininhos
Cocaína
Marmitas e sopões, cultos evangélicos
Multirões católicos, louvores e promessa de milagres
E onde está o tal Deus...
A última esperança pra uns, pra maioria, Deus morreu de fome ou de frio...
Barrigas prenhas, sexo nas esquinas
Crianças abandonadas
Crack, Pinga, Cocaína, Crianças Abandonadas
Calçadas cinzas, praças soturnas
Rua...
Rua...
Nua rua do silêncio desarmado e do grito entalado
Retratos que ninguém vê ou não quer ver
Muito mais que retratos
Cenas urbanas
Cenas insanas
Barracos e cabanas
Rua...
Cheia de impessoalidade
Lotada de subpessoas
Cenas urbanas
Cenas insanas...
Pelas ruas!
Rodrigo Augusto Fiedler

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