sexta-feira, 8 de março de 2019

"Saltimbancos do Saber"



"Saltimbancos do Saber"
Equilibrar-se nas cordas bambas de orçamentos apertados
Porradas na cara, cuspes, empurrões por todos os lados
Nem papel-higiênico tem
E não se pode reclamar com outrem
Se faz-se greve, ganha um vulgo: vagabundo
Deveria-se ter o melhor salário do mundo
Pois acorda-se muito cedo
E mesmo, muitas vezes, com medo
Migra-se calado pra periferia
Tentando mostrar que nas Letras, Ciências, Matemática e Filosofia
Há muito mais do que simples competências
Tem sim muita arte, pilares do saber e alegria
Das lousas e gizes se faz os malabares
Ensinam-se coisas que deveriam ter vindo dos lares
São aulas que desaprisionam de um mundo obtuso
Faz-se da excessão a regra, traz a ética ao uso
Violões, Apostilas, Livros Velhos e percussões
Palmas descompassada retratam emoções
E alguém lá do fundo levanta sua mão
E o tal menestrel nunca responde com não
Ouve a dúvida da criança
Cria uma resposta compreensível
Devolve a ela esperança
Quase sempre o resultado é incrível
Saltimbancos, palhaços, equilibristas e poetas dos saberes
São estes os professores de tantos quereres
Que mesmo não sendo jamais ouvidos
Não se sentem inibidos
Pro picadeiro sem luzes voltar...
Ser professor é muito mais do que ser um artista
É, sem preconceitos, atender o hiperativo, o deficitário e até o autista
É encenar sua arte matriz para todo tipo de gente
É fazer isso de forma autônoma e independente
Não é importante uma doutrina
Nem tampouco ser vendedor de ideologias
É enfrentar com sorriso sua sina
E mesmo sem palmas encontrar a alegria
De ensinar àqueles que não sabem quase nada
Ler histórias, suspenses e contos de fada
Ensinar sem régua e compasso a Geometria
Trazer Platão e Aristóteles à luz da Filosofia
E ainda ensinar Redação
Que em tempos de Tablets, celulares e computadores ainda são feitas à mão
Insistir no acerto
Superar o aperto
E ainda ter que ouvir de pessoas
Muitas vezes até que são boas
Que a culpa de tudo que dá errado é sua responsabilidade
Talvez porque julguem a sua habilidade
De se equilibrar nas tais cordas bambas
E cair esgotado lá do alto ao picadeiro
E ser abandonado ferido pelo "circo" inteiro
E o silêncio ecoa nas coxias...
Rodrigo Augusto Fiedler (Saltimbanco dos Saberes, Artista do Absurdo e Professor de Língua, Linguagens, Literatura e Redação)

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