quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

"tempo Bom"

"Tempo Bom, que não volta nunca mais"
O banho não era demorado. Custosa era a "toilete". Rituais adolescentes de quem já se via adulto. Produtos Nívea: cremes, hidratantes e um desodorante sem perfume. Os outros: Bozzano - espumas, água velva e um antigo gel para um tempo em que os cabelos ainda vinham até abaixo das orelhas. Perfumes? Não... não havia exatamente perfumes (um ou outro, raramente, apostava no caríssimo Stiletto). Colônias sim, e de Atikinsons: English Lavander ou After Sports (que já tinha duas versões: esportivo e o "nights" de vidro azul). A indumentária do sábado à noite, entre nós de 16 anos, parecia uniformizada - a calça Fiorucci semibag, sapato crepe de camurça em tons médios de marrom, cintos grossos de couro com o logotipo da antiga Zoomp do Kerlakian e camisetas estilo "surf", provavelmente, da Rip Curl, e em outras vezes, preta, com o símbolo icônico da Forum. Um mar de jovens que se sentiam adultos, todos iguais.
As opções do sábado à noite, por anos, foram as mesmas - invariavelmente, pelo menos por aqui, na Zona Leste: ora Toco, ora Contramão e se havia uns trocados a mais, o rumo era a Moóca - Over Night ou Pirâmide. Nas pistas o rock já houvera saído de moda e o fantástico DJ Iraí Campos (que tocava fixo na Toco, mas dava festas nas outras casas) nos trazia de bandeja a nova onda noturna dos bailes de Los Angeles e São Francisco: o House. Information Society, Noel, Erasure, Snap, Bomb the Bass, C + C, Technotronics, Front 242 e os controversos irmãos do Milli Vanilly que eram plágios, cover deles mesmos. Engraçado.
Bebia-se "Bananinha", "Chiclete com Banana" e "Canelinha". Em momentos de dureza: "Porradinha" - vodka vagabunda com soda limonada... os mais atirados compravam cigarros. As marcas? As mesmas: John Player, Marlboro ou Carlton.
Dançava-se de passinho. Coreografias que tomavam mais de mil pessoas nos salões. Luzes negras, estreboscópios, globos platinados, canhões coloridos... até às 04:00 da manhã. Íamos e voltávamos à pé. Turmas enormes. Não havia drogas. Não havia trevas e tudo era colorido. O papo da turma de meninos-homens dos morros do "Arica" e da "Matilde" era sempre o mesmo - disputas egocêntricas sobre quem tinha "ficado" com quem. A verdade, elíptica, era unânime: beijo na boca, em 1989 ou 1990, era uma conquista sem igual. Sexo, prostituição ou vulgaridades, nunca.
E assim crescemos juntos, nos divertimos e conhecemos o poder da noite. Nasceram namoros, relacionamentos, laços de amizade que duram até hoje. Uma origem simples, classe média remediada, sem ostentações. Uns prosperaram, outros nem tanto, alguns desviaram, outros se converteram, uns adoeceram e houve quem nos deixou. Mas o livro da vida, nas páginas juvenis, foi devidamente assinado por igual. Todos nós estávamos lá e eu, certamente, não sou o único a contar esta história e divulgar nosso maior patrimônio: as saudades de um tempo bom, que não volta nunca mais.
Rodrigo Augusto Fiedler

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