terça-feira, 24 de dezembro de 2019

"Os Paralamas do Sucesso iam tocar na Capital e a caravana do amor também para lá se encamihou"

Tive uma experiência no início, bem no início, dos anos 80. Talvez 1982 ou 1983. Tive a chance de assistir, ainda criança, a um dos maravilhosos programas da TV Cultura chamado Fábrica do Som.
O Brasil estava se tornando um jovem propositor de bandas de rock, muitaas advindas do eixo triangular São Paulo x Rio x Brasília. Naquele começo de noite, entre clássicos como Língua de Trapo, Joelho de Porco ou Luís Carlini, uma banda originada por membros brasilienses radicados no Rio veio dar o tom: eram os Paralamas do Sucesso – o SESC Pompeia quase veio abaixo: o sucesso foi estrondoso.
Desde o primeiro momento – e eu ainda muito inexperiente – me encantei com a forma lúdica e engraçada de fazer músicas, se bem me lembro, tocaram Ska e Óculos. Não poderia ter sido diferente. Tornei-me fã dos caras em tenros 8 ou 9 anos de vida.
Os primeiros anos:
Em 1977 Herbert Vianna se mudou de Brasília para o Rio de Janeiro para fazer o Ensino Médio em um colégio militar e reencontrou Bi Ribeiro, amigo de infância da capital brasileira que estava no terceiro ano na mesma instituição. Os dois compartilhavam do gosto pelo rock e começaram a ensaiar juntos de forma amadora, uma vez que Herbert tocava guitarra e Bi baixo, convidando ainda para se juntar a eles o baterista Vital Dias, amigo do baixista. Em 1979 os três amigos deixaram de se ver por conta do vestibular e só voltaram a se reencontrar em 1981. Neste ano voltaram a ensaiar juntos em um sítio em Mendes, interior fluminense, e na casa da avó de Bi, em Copacabana, quando também passaram a compor canções de cunho humorísticas, como "Vovó Ondina é Gente Fina", "Mandingas de Amor", "Reis do 49" e "Pinguins? Já Não os Vejo Pois Não Está na Estação". Além disso, os amigos trouxeram Ronel e Naldo como vocalistas da banda, que foi batizada originalmente como As Cadeirinhas da Vovó.
Em 1982 os amigos decidiram se tornar uma banda profissional e passar a compor a sério, porém Ronel e Naldo não visavam seguir a carreira artística e decidiram não fazerem parte do projeto. Hebert, que até então tocava apenas guitarra, se tornou também vocalista da nova banda, batizada como Os Paralamas do Sucesso, e eles começaram a realizar shows oficialmente, trazendo um repertório que mesclava músicas próprias e covers de outros artistas. Em 1982 Vital faltou a uma apresentação na Universidade Rural do Rio e foi substituído por João Barone, que assumiu de vez o lugar na banda pela inviabilidade de continuar na carreira artística do baterista original, mantendo ainda uma relação de amizade com eles fora dos palcos. Neste ano a banda enviou a demo da canção "Vital e sua Moto" para a Fluminense FM, se tornando uma das mais tocadas na rádio no verão de 1983. Em janeiro a banda abre os shows de Lulu Santos no Circo Voador, fato que chamou atenção da EMI, com quem assinaram contrato. No mesmo ano a banda lança o álbum Cinema Mudo trazendo as canções humoradas escritas antes de se profissionalizarem, o que a banda era contra, porém tendo sido obrigados pela gravadora para garantir um lançamento sério futuro. Apesar dos Paralamas serem considerados parte da turma do "rock de Brasília" – como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial –, por terem amizade com estas bandas, além de Herbert e Bi terem vindo da capital brasileira, o Paralamas foi formado no Rio de Janeiro.
A maturidade:
Em 1984 a banda lançou finalmente o tão esperado álbum mais sério, O Passo do Lui, que teve enorme sequência de sucessos como "Óculos", "Me Liga", "Meu Erro", "Romance Ideal" e "Ska", além da aclamação crítica, levando o grupo a tocar no Rock in Rio, no qual o show dos Paralamas foi considerado um dos melhores. Depois de grande turnê, lançaram em 1986, Selvagem?, o mais politizado. O álbum contrapunha a "manipulação" desde sua capa (com o irmão de Bi no meio do mato apenas com uma camiseta em torno da cintura), e misturava novas influências, principalmente da MPB. Com sucessos como "Alagados", "A Novidade" (a primeira com participação de Gilberto Gil, e a segunda co-escrita com ele), "Melô do Marinheiro" e "Você" (de Tim Maia), Selvagem? vendeu 700.000 cópias e credenciou os Paralamas a tocar no cultuado Festival de Montreux, em 1987.
O show no festival da cidade suíça viraria o primeiro disco ao vivo da banda, D. Nele, a novidade, em meio ao show com os sucessos já conhecidos, era a inclusão de um "4º paralama", o tecladista João Fera, que excursiona com a banda até hoje, como músico de apoio. Os Paralamas também fizeram turnê pela América do Sul, ganhando popularidade em Argentina, Uruguai, Chile e Venezuela. O sucessor de Selvagem?, Bora-Bora (1988) acrescentou metais ao som da banda. O álbum mesclava faixas de cunho político-social como "O Beco" com as introspectivas "Quase Um Segundo" e "Uns Dias" (reflexo talvez do fim do relacionamento com a vocalista da banda Kid Abelha, Paula Toller). Bora-Bora é tão aclamado pela crítica quanto O Passo do Lui.
O Espaço das Américas (2015)
Nunca tinha tido a oportunidade de vê-los ao vivo, porém nunca deixei de segui-los... fiquei condoído com acidente de ultraleve, pela MTV vi o advento de “O Calibri” – primeira música realmente agressiva de Vianna e gostei muito das músicas cedidas para Ivete Sangalo construir sua carreira romântica – A Lua que eu te dei é uma das músicas mais lindas de todos os tempos. Essa pluralidade de se ir de ‘Óculos” a “Alagados”, de “Lanterna dos Afogados” a ‘O Calibri”, passando pela “Lua que eu te dei” e “Se eu não te amasse tanto assim” me fez ter – de fato – uma certeza que eu já tinha: Herbert era e é um gênio.
Ganhei da Universidade Presbiteriana Mackenzie 4 ingressos para ir ao show em 2015 e a ida a este espetáculo foi, ao mesmo tempo, saudosista, divertido e altamente cultural. O que os três fazem com os instrumentos, principalmente Barone, é surreal.
Influências visíveis:
O Police é quase a versão internacional dos Paralamas e sugiro que procurem pelo terceto carioca-brasilience uma versão reherseal de Shine Eye Gall dos jamaicanos do Bralck Uhuru. Coincidência pouca é bobagem...
É isso!

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