terça-feira, 24 de dezembro de 2019

"De Bach a Schweitzer"

Boa noite,
Talvez a mais completa de minhas Biografias - Homenagem ao meu Tio (e suplente de pai - risos) Professor Mestre Augusto Prado Fiedler...
Artigo produzido pra a Coluna Periódica “Uma viagem musical de A a Z” do Grupo Busca da Verdade, projeto Editorial do qual faço parte como articulista e jornalista cultural...
“Johann Sebastian Bach – das igrejas e monastérios para o cume mais alto da história da música”
Nascido no que poderia hoje ser reconhecido como uma província da Alemanha - Eisenach (Império Sacro Romano-Germânico), aos 21 de março de 1685, certamente, o mundo não poderia imaginar que um homem – simples homem, pudesse chegar tão perto de Deus. E Bach fez isso com sua música. Johann desde jovem apresentou vasta e demasiada facilidade para lidar com diversos instrumentos musicais. Ícone do Barroco, quando falamos destes instrumentos, muitos deles, no mundo de hoje, sequer existem mais. Bach era autodidata em órgão, órgão de tubos, órgão de 5 oitavas, cravo, craviola e violino e, ao passo com que suas relações com a música foram se intensificando, tornou-se um excepcional regente, em alemão – kapellmeister – ou líder musical de um capelanato, igreja ou afins.
Nascido numa família de longa tradição musical, cedo mostrou possuir talento e logo tornou-se um músico completo. Estudante (incansável) adquiriu um vasto conhecimento da música europeia de sua época e das gerações anteriores. Desempenhou vários cargos em cortes e igrejas alemãs (na maioria luteranas), mas suas funções mais destacadas foram a de Kantor da Igreja de São Tomás e Diretor Musical da cidade de Leipzig, onde desenvolveu a parte final e mais importante de sua carreira. Absorvendo inicialmente o grande repertório de música contrapontística germânica como base principal de seu estilo, recebeu mais tarde a influência italiana e francesa, através das quais sua obra se enriqueceu e transformou, realizando uma síntese original de uma multiplicidade de tendências. Praticou quase todos os gêneros musicais conhecidos em seu tempo, com a notável exceção da ópera, embora suas cantatas maduras revelem bastante influência desta que foi uma das formas mais populares do período Barroco ao lado de figuras como Pachebell e Haydn.
Como no Barroco tudo era exageradamente forte e contundente – e digo isso como professor de Literatura – pode-se observar certa saliência no trabalho do músico alemão. Tudo era grande, grandioso e, em muitos casos, transcendental.
A Europa, ainda no final do século XVII vivia um clima onde a tônica girava em torno da Reforma Protestante e a Contrarreforma. Bach, luterano, típico germânico médio daquela época, conseguiu um feito muito raro: sua música uniu aspirantes às duas crenças. Sim... Os aspectos religiosos da obra bachiana estavam muito além dos rótulos religiosos, aliás, a música de Bach pôs fim a muitos conflitos e uniu muitas pessoas – de simples servos a nobres, do clero católico romano aos luteranos e calvinistas. A linguagem era uma só: enaltecer as coisas e maravilhas de Deus para com o Homem e isso foi visto, no campo da música, pela primeira vez com Bach. Eu arriscaria dizer que nesta seara, Johann Sebastian Bach foi o primeiro artista com flertes ecumênicos e humanistas.
Voltando à abordagem musical e fugindo um pouco do viés ideológico, pode-se dizer com facilidade que sua habilidade ao órgão e ao cravo foi amplamente reconhecida enquanto viveu e se tornou lendária, sendo considerado o MAIOR VIRTUOSO de sua geração e um especialista na construção de órgãos. Também tinha grandes qualidades como maestro, cantor, professor e violinista, mas como compositor seu mérito só recebeu aprovação limitada e nunca foi exatamente popular, ainda que vários críticos que o conheceram o louvassem como grande. A maior parte de sua música caiu no esquecimento após sua morte, mas sua recuperação iniciou no século XIX, através do compositor Felix Mendelssohn (1809-1847) e desde então seu prestígio não cessou de crescer. Na apreciação contemporânea Bach é tido como o maior nome da música barroca e muitos o veem como o maior compositor de todos os tempos, ganhando também o título de "Pai da Música", elogiado e estudado por grandes compositores como Mozart e Beethoven, deixando muitas obras que constituem a consumação de seu gênero. Entre suas peças mais conhecidas e importantes estão:
Concertos de Brandenburgo
O Cravo bem temperado
Sonatas e partitas para Violino Leve
Missa em Si Menor
A lendária Paixão segundo São Matheus
Oferenda Musical
A Arte da Fuga e muitas outras de suas de suas cantatas.
A suíte para piano ou cravo e violino “Jesus Alegria dos Homens” é a mais popular de suas obras. Cabe citar que a fatídica “Ave Maria de Gounoud”, na verdade, recebeu do bom compositor francês apenas a letra do coral, pois a melodia – e poucos sabem – também é de “Bach”. Johann falece em Leipzig, onde viveu por toda vida em meados de 1750.
“Albert Schweitzer, o grande organista, discípulo bachiano e maior intérprete do compositor que se tem conhecimento na História”
Prêmio Nobel da Paz em 1952, além de ser o maior intérprete de Bach que o mundo já viu, Schweitzer era um homem especial...
Formou-se em teologia e filosofia na Universidade de Estrasburgo, onde, em 1901, o nomearam docente. Tornou-se também um dos melhores intérpretes de Bach e uma autoridade na construção de órgãos.
Aos trinta anos, gozava de uma posição invejável: trabalhava numa das mais notáveis universidades europeias; tinha uma grande reputação como músico e prestígio como pastor de sua Igreja. Porém, isto não era suficiente para uma alma sempre pronta ao serviço. Dirigiu sua atenção para os africanos das colônias francesas que, numa total orfandade de cuidados e assistência médica, debatiam-se na dura vida da selva.
Em 1905 iniciou o curso de medicina, e seis anos mais tarde, já formado, casou-se e decidiu partir para Lambaréné, no Gabão, onde uma missão necessitava de médicos. Ao deparar-se com a falta de recursos iniciais, improvisou um consultório num antigo galinheiro e atendeu seus pacientes enfrentando obstáculos como o clima hostil, a falta de higiene, o idioma que não entendia, a carência de remédios e instrumental insuficiente. Tratava de mais de 40 doentes por dia e paralelamente ao serviço médico, ensinava o Evangelho com uma linguagem apropriada, dando exemplos tirados da natureza sobre a necessidade de agirem em beneficio do próximo.
Com o início da Primeira Grande Guerra os Schweitzers foram levados para a França, como prisioneiros de guerra. Passaram praticamente todo o período da guerra confinados num campo de concentração. Nesse período, Albert escreve sobre a decadência das civilizações.
Com o final da guerra, retoma seus trabalhos e, ante a visão de um mundo desmoronado, declara: “Começaremos novamente. Devemos dirigir nosso olhar para a humanidade”.
Realiza uma série de conferências, com o único intuito de colher fundos para reconstruir sua obra na África. Torna-se muito conhecido em todos os círculos intelectuais do continente, porém, a fama não o afasta dos seus projetos e sonhos.
Após sete anos de permanência na Europa, parte novamente para Lambarené. Dessa vez acompanhado de médicos e enfermeiras dispostos a ajudá-lo. O hospital é erguido numa área mais propícia, e com o auxílio de uma equipe de profissionais, Schweitzer pôde dedicar algumas horas de seu dia a escrever livros, cuja renda contribuía para manter os pavilhões hospitalares.
Foi laureado em 1952 com o Prêmio Nobel da Paz, como humilde homenagem a um “grande homem”.
Morreu em 4 de setembro de 1965, em Lambaréné, no Gabão. Seu coração encontra-se sepultado no Albert Schweitzer Hospital, na África.
Enfim...
A obra espiritual, transcendental e amplamente ecumênica de Bach não sucumbiu ao tempo e às suas modernidades nas quais os temas ligados a Deus ou religiões entraram tão em baixa.
Bach estava vivo no trabalho voluntário, nos esforços humanistas e principalmente no Órgão de 5 oitavas de Shweitzer...
Falamos aqui de dois grandes homens com almas muito elevadas.


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