quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

"Autopiedade ou Tristeza?"

"Autopiedade ou Tristeza"
Por amostragem, talvez estatísticas, é muito provável que a Autopiedade e a Tristeza, ou Melancolia, tanto faz, sejam confundidas entre si e que, por conta disso, hajam julgamentos condenados a rotular àqueles que, por instantes, têm por mil e um motivos, se afastado da alegria.
O ponto chave deste paradoxo, ou ainda simbiose de sentimentos é a classificação deles quanto (e frente) ao comportamento dos indivíduos que passam por eles. É necessário ressaltar que alegria não é Felicidade e que a tristeza não mora num aspecto infeliz. Ou seja, posso estar triste, muito triste, e ser um homem muito feliz. Vale para o inverso também. Além desta condição ambígua e antagônica, pode-se perceber que a Autopiedade é o escape, a fuga dos que se encontram melancólicos e que a Euforia, muitas vezes a arrogância, são os resultados negativos de um excesso de alegria, que, ao meu ver, quase sempre está ligado a um comportamento trópico regado às mais diversas fantasias e à falta de condições de se compreender com certa frieza, o exato espectro do momento, do meio e da relação do meu eu com o outro.
Embaralhando as palavras e tentando pontuá-las, na minha autoanálise profunda, vejo que estou demasiadamente triste com situações sinistras que vêm cercando meu entorno, porém não tenho nenhum tipo de comiseração de mim mesmo, logo, a Autopiedade não mais habita em mim. Tanto não habita, que sou capaz de viver um momento de extrema tristeza, egressa de um colapso gigantesco do meu momento de vida que, por hora, enfrenta vários dissabores (ligados a desemprego, enfermidades clínicas, enfermidades mentais, baixa autoestima e uma enorme dificuldade de reger, com maestria, meus principais relacionamentos), e, ainda, dar graças e constatar que, embora os esquadros sejam desfavoráveis, sou um Homem muito feliz.
Por conseguinte, o ônus da minha melancolia que quase esbarra na depressão, não pode e nem deve ser rotulado como uma fragilidade de caráter e, se dela parte um bônus, também em nada se relaciona com a carência de pena ou compaixão alheias. Decreto, aqui, a morte por completo, de uma vigorosa Autopiedade que carreguei no meu DNA por mais da metade da minha vida.
Em suma, estou triste, muito triste, não consigo, agora, neste momento, com apenas minhas forças, minha razão ou minha boa vontade, reverter este quadro: hei de viver com ele, esperar a poeira baixar, manter-me concentrado nos mistérios de Deus e, como Jó, o personagem da Bíblia, permanecer, até o fim, dando graças e enaltecendo a Felicidade que é, e sempre foi, a minha marca registrada.
Tristezas são apenas núvens carregadas e cinzentas que escondem o Sol. Logo menos elas se precipitam numa chuva torrencial de lágrimas e, quando conseguirmos secar os olhos, a alegria, brilho do Astro Rei, há de voltar ao seu posto principal: o trono de reinado da minha personalidade e do bom lado produtivo do meu ego.
Lembrando o Rei Salomão no livro da sabedoria, ele elucida que, enquanto a tolice mora na casa de festa, a sabedoria mora, exatamente, na casa do luto. Complementando, o fato é que não há mal nenhum em estar triste, pois, é exatamente no núcleo deste momento que Deus nos dá a melhor chance de refletir e descobrir desígnios e características do Universo.
Rodrigo Augusto Fiedler do Prado
Novembro de 2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário