quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Legião

Rodrigo Augusto Fiedler está  se sentindo animado com Carol Dias e outras 25 pessoas em Metro Penha.
"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"
(Artigo feito para a Coluna Periódica "Uma viagem musical de A a Z" do Portal Busca da Verdade - http://gbuscadaverdade.org por Professor Rodrigo Augusto Fiedler)
O ano exato eu não me lembro, algo entre 1985 e 1986, eu já estava no antigo ginásio e me lembro que as irmãs Pallottinas em seus discursos e sermões um tanto marxistas, falavam de peito cheio sobre a volta da democracia. Nas vitrolas, nas nossas casas, nada tocava mais do que o Thriller de Michael Jackson.
Sábados eram "batata": primeiro Chacrinha, na Globo e depois o Raul Gil na Rede Record quando ela ainda pertencia ao bom Paulo Machado de Carvalho. Havia também o Clube do Bolinha na Rede Bandeirantes e o Barros de Alencar, à tarde, no mesmo horário do Chacrinha.
Algo era unânime nestes programas: o surgimento "por atacado" de fracas bandas de rock. Bandas cômicas e coloridas que vinham na onda da Blitz de Mesquita e Fernanda Abreu. Havia o Erva Doce, o Silvinho, o Doutor Silvana, o Metrô, os Heróis da Resistência, do bom e esforçado Leoni e claro, a presença consagrada daqueles que fariam naquela década, o alicerce de boa qualidade de tudo que estaria por vir:
As bandas de Brasília (Legião Urbana, Paralamas, Plebe Rude, Capital e Biquíni Cavadão...) e as bandas de São Paulo (Titãs, Ira! e Golpe de Estado). Do Sul tínhamos o prolixo e complexo Engenheiros do Havaí.
Cabe lembrar que nenhuma destas
Bandas citadas, seja de Brasília, de SP ou de RS precisavam exatamente daquela exposição de mau gosto, entre bacalhaus, cornetas, abacaxis e muitas mulheres rebolando em maiôs bem apertados e bem cavados. Mas como eram tempos de abertura, valia tudo!
Respectivamente, às noites, e sempre de sábado, havia o Perdidos na Noite com a apresentação de um Fausto Silva hilário, esquetes com a dupla Tatá e Escova e muito rock. Inclusive as bandas do ABC e do circuito alternativo, brilhavam no Perdidos, depois das 23:00. Um pouco mais cedo Laerte Sarrumor e outras figuras como o próprio Sérgio Grossman davam o tom da explosão rocker no auditório Franco Zampari ou no Sesc Pompeia - era o Fábrica do Som da TV Cultura .
Foi nestes dois programas e, mais tarde, no Matéria Prima, também da Fundação Pe. Anchieta que de todas bandas citadas, uma em específico se destacou. Falo da Legião Urbana de Renato Russo, Bonfá e Dado, na época, Renato Rocha mandava bem no baixo de 4 cordas.
Havia algo mágico em torno deles. Era um processo empático difícil de compreender, as músicas flertavam especificamente com adolescentes, com seus anseios e rebeldias. Era o sapato de número certo nos pés da molecada. O primeiro disco de 84 para 85, Legião Urbana 1, emplacou, de cara, uns 3 bons hits: Por Enquanto, Será e Geração Coca Cola. O segundo disco já veio consagrado, já havia contrato com a EMI e em poucos meses emplacou nas top 20 das rádios do Brasil, seja AM ou FM, pelo menos 5 bons hits...
Quase sem querer, Tempo Perdido, Índios, Eduardo e Mônica (fenômeno de radiofusão), Daniel na Cova dos Leões, Acrilic on Kanvas e Fábrica. Estes dois discos, gravados entre 1984 e 1986 mudaram o perfil do Rock nacional. O Rock passou a ser uma atitude jovem, um pedido de socorro e, claro, uma tábua de salvação.
Retomando, havia espaço para todos, o Cazuza seguia em carreira solo, o Barão aproveitou o Roberto Frejat nos vocais, is Titãs e o Ira! tinham seu público cativo e assim girava a roda gigante do rock nacional.
Em 1988, Renato Russo e sua trupe trouxe ao mercado o Disco, dito Legião Três ou Que País é este e canções como Faroeste Caboclo, uma narrativa densa inspirada nas influências que o poeta Allan Ginsberg trouxera para Hurricane de Bob Dylan, Que País é Este e Angra dos Reis. Enfim...
Um processo de criação poética de alto nível e melódica, sempre simples com menos de 5 acordes, formataram uma proposta acessível e bastante culta nas rodinhas de fogueira e vinho.
O auge veio em 1989, com As Quatro Estações e, neste disco, seu maior sucesso: Pais e Filhos, uma música melancólica que retratava em sua excelente letra, a história ou a abordagem da "depressão adolescente" os "Transtornos Borderline", o abandono e as possíveis tentativas de suicídio. Algo como Werther de Goethe. Um texto ultra-romântico (no sentido de Escola Literária) de fácil identificação entre jovens. A homoafetividade também veio à tona neste disco e outra abordagem importante, as drogas e a tristeza que elas trazem, também pilotaram esta nave de voos altos e bastante panorâmicos.
Ainda em 1989, houve em agosto, a fatídica turnê de coroação do As Quatro Estações" - Renato ainda que vigoroso, mostrava sinais de fragilidade frente ao compulsivo uso de drogas e álcool.
Entre 1990 e 1991, as gravações de Legião 5 foram cansativas e o disco, para muitos um dos melhores, na minha concepção, tinha apenas duas músicas muito acima da Média: O Teatro dos Vampiros e Metal contra as Nuvens.
Neste período, Russo oscila entre momentos de sobriedade e plena loucura, busca um autoexílio e vai até às últimas consequências para ficar "limpo". Ingressa em Alcoólicos e Narcóticos Anônimos e escreve uma música em homenagem à Programação de 12 Passos: Só por Hoje.
O disco Descobrimento do Brasil é fraco, muito depressivo, a Tempestade, de 1994 chega a ser soturno e, exatamente nesta fração da Década de 90, surge o Charlie Brown Jr, que viria a atrair o público jovem desta nova geração.
Renato Russo morre em 1996 e a banda lança Uma Outra Estação, disco póstumo, muito triste, que encerra com sabor de fel a carreira da banda mais proeminente da História do Brasil recente.
Sobrou muita nostalgia e eternas saudades...

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