Conto/Crônica do Cotidiano, por Caio Braga
Pequeno conto do cotidiano:
- Vovô, queria lhe perguntar umas coisas... tudo bem?
- Claro, meu neto, fique à vontade.
- O senhor viveu na época da ditadura, né? Como era?
- Bom... vamos lá: eu sempre trabalhei e fui obediente, nunca fiquei questionando muito as coisas porque sempre achei que era perda de tempo, sempre segui as regras e nunca fui de ficar perguntando muito...
- Mas vovô, o senhor nunca quis saber como as coisas funcionam, como elas são de verdade?
- Não, pra mim se eu tenho o que comer e um teto tá tudo certo, Deus quis assim e eu sou grato.
- O senhor acompanhava as notícias na época? O senhor lia e tentava se inteirar do que estava acontecendo?
- Meu neto, eu tinha mais o que fazer, eu tava trabalhando e pondo comida na mesa, como sempre fiz.
- Mas o senhor sabia da violência, das mortes de amigos que eram contra o regime?
- Não, meus amigos eram como eu, ninguém ficava dando uma de intelectual, a gente fazia o que mandavam.
- Vovô, desculpe perguntar... mas o senhor nunca questionou alguma autoridade?
- Olha, meu neto... eu fui criado pra obedecer, e quando eu não entendia algo ou me mandavam ir pra igreja rezar ou eu tomava uma surra, então esse negócio de "questionar" só serve pra criar problema, melhor é ficar sem saber mesmo algumas coisas!
- Mas eu ouvi que havia muita desigualdade nesses anos, que quem estava bem continuou bem mas que quem era pobre só ficou mais pobre ainda, isso é verdade?
- Olha, meu neto... eu só sei que Deus dá pra quem merece... se o caboclo rala e num tem nada é porque alguma coisa ele fez de errado, e o problema é dele, não meu.
- E violência? Tinha nessa época, vovô?
- Nada, imagina! A gente chegava do serviço e ia dormir numa boa, num tinha enguiço não!
- Vocês tinham acesso a cultura? Música, cinema, peças de teatro?
- Ah, sim, a gente via televisão e ouvia Roberto Carlos! Quer coisa melhor?
- Ok, entendi... pra terminar então esse papo chato queria só saber se o senhor acha que o nazismo e o fascismo são de direita ou se são de esquerda.
- Vixi, essas coisas eu estudei na escola, já esqueci, meu neto... mas acho que devem ser de esquerda, meu pai sempre disse que tudo que é ruim vem dela, então acho que é isso...
- Vovô, obrigado, o senhor me deu uma aula, agora já sei que caminho seguir, qual direção devo tomar!
- De nada, meu neto! Espero ter te ajudado! Aliás, amanhã é seu aniversário, não é?
- Sim, vovô! Que legal o senhor ter lembrado! E depois dessa conversa já sei como me posicionar de agora em diante nessa bagunça toda!
- Meu neto, só desculpe a minha cabeça, mas quantos anos mesmo você vai fazer?
- Tranquilo, vovô, isso acontece! Vou fazer trinta e seis!
- Poxa, é verdade, como o tempo passa rápido!
- Claro, meu neto, fique à vontade.
- O senhor viveu na época da ditadura, né? Como era?
- Bom... vamos lá: eu sempre trabalhei e fui obediente, nunca fiquei questionando muito as coisas porque sempre achei que era perda de tempo, sempre segui as regras e nunca fui de ficar perguntando muito...
- Mas vovô, o senhor nunca quis saber como as coisas funcionam, como elas são de verdade?
- Não, pra mim se eu tenho o que comer e um teto tá tudo certo, Deus quis assim e eu sou grato.
- O senhor acompanhava as notícias na época? O senhor lia e tentava se inteirar do que estava acontecendo?
- Meu neto, eu tinha mais o que fazer, eu tava trabalhando e pondo comida na mesa, como sempre fiz.
- Mas o senhor sabia da violência, das mortes de amigos que eram contra o regime?
- Não, meus amigos eram como eu, ninguém ficava dando uma de intelectual, a gente fazia o que mandavam.
- Vovô, desculpe perguntar... mas o senhor nunca questionou alguma autoridade?
- Olha, meu neto... eu fui criado pra obedecer, e quando eu não entendia algo ou me mandavam ir pra igreja rezar ou eu tomava uma surra, então esse negócio de "questionar" só serve pra criar problema, melhor é ficar sem saber mesmo algumas coisas!
- Mas eu ouvi que havia muita desigualdade nesses anos, que quem estava bem continuou bem mas que quem era pobre só ficou mais pobre ainda, isso é verdade?
- Olha, meu neto... eu só sei que Deus dá pra quem merece... se o caboclo rala e num tem nada é porque alguma coisa ele fez de errado, e o problema é dele, não meu.
- E violência? Tinha nessa época, vovô?
- Nada, imagina! A gente chegava do serviço e ia dormir numa boa, num tinha enguiço não!
- Vocês tinham acesso a cultura? Música, cinema, peças de teatro?
- Ah, sim, a gente via televisão e ouvia Roberto Carlos! Quer coisa melhor?
- Ok, entendi... pra terminar então esse papo chato queria só saber se o senhor acha que o nazismo e o fascismo são de direita ou se são de esquerda.
- Vixi, essas coisas eu estudei na escola, já esqueci, meu neto... mas acho que devem ser de esquerda, meu pai sempre disse que tudo que é ruim vem dela, então acho que é isso...
- Vovô, obrigado, o senhor me deu uma aula, agora já sei que caminho seguir, qual direção devo tomar!
- De nada, meu neto! Espero ter te ajudado! Aliás, amanhã é seu aniversário, não é?
- Sim, vovô! Que legal o senhor ter lembrado! E depois dessa conversa já sei como me posicionar de agora em diante nessa bagunça toda!
- Meu neto, só desculpe a minha cabeça, mas quantos anos mesmo você vai fazer?
- Tranquilo, vovô, isso acontece! Vou fazer trinta e seis!
- Poxa, é verdade, como o tempo passa rápido!
Por Caio Braga
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