sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Raulzito

Raul dos Santos Seixas...
o Raulzito!
Eu tinha 12 anos, era 1986 e Raul, ainda vivo, estava bastante decadente. Tragado pelo alcoolismo severo (diferente do que se pensa, Raul usou drogas esporadicamente, princialmente boinhas, anfetaminas e barbitúricos) ele ainda era - ou já era, ja tinha, já carregava consigo a alcunha de Rei do Rock Nacional, ele sim, um mito além da própria existência.
E foi naquele verão de férias de escola, no início de 1986 que eu tive meu primeiro acesso REAL ao trabalho de Raul. Músicas como Gita, Medo da Chuva e Tente outra vez tocavam vez ou outra nas rádios difusoras daquele tempo, mas nada que permitisse um mergulho definitivo na arte, na poesia e na mística mítica de Raul.
Eu tinha um amigo dois anos mais velho - o Alessandro Valentim - inclusive meu amigo e apoiador até hoje que, vira e mexe, ouvia uma fitinha do Raul nos sábados pela manhã, quando ele, o Júnior, nosso amigo finado, o Tonico, outro finado e o Tico, da eterna Variant Vermelha se reuniam para lavar os carros dos pais e dar um rolê.
Eu e os meninos mais novos, ficávamos do outro lado da rua ouvindo músicas no meu gravadorzinho National e eu tinha uma fita - original - do The Police: Don't Stand So Close to Me 86'...
Os caras mais velhos ouviram e ficaram seduzidos pelas músicas do The Police que, na época, tocava obrigatoriamente em casas como a Pirâmide, a Contramão, a Toco e a Over Nigth (anos 80).
Foi aí que o Alê cometeu o ato mais impensado da vida dele e nestas, eu saí como sortudo: Ele saiu de dentro do belo Chevette branco de sua mãe, tirou a fita do Raul, pôs na capinha original e veio até mim e propôs uma troca:
- Rodrigo, topa trocar esta fita original do Raul - é uma boa coletânea, tem os maiores sucessos, por esta fita do The Police?
Pensei por uma fração de segundos e logo aceitei... (fizemos a troca mais justa e rápida de todos os tempos)
Imediatamente, pus a fita no meu National e no mesmo dia eu já cantarolava versos de Ouro de Tolo, Tente Outra Vez e Gita.
Cabe dizer que me tornei grande apreciador e até estudioso da obra e vida de Raul. Fiz certa e boa amizade com Roberto Seixas, sou filiado à Sociedade Alternativa e dou muito valor às ideias de Sylvio Passos, tenho todos os discos, livros, extras, piratas, bootlegs, MP3...
Cheguei à conclusão que nenhum trabalho musical e poético poderia ir tão longe. Raul não se correlacionava com os ouvidos de seus ouvintes, mas sim, com as almas.
E ainda carrego algumas curiosidades; trabalhei na central de atendimento da Peugeot Assistance e já havia um Rodrigo - passei a atender como Raul...
Anos mais tarde, no HSBC, também não poderia usar meu nomo, o mesmo aconteceu na Telefônica e assim fui me consolidando com o nickname de Raul...
Todas as minhas senhas, para tudo, envolvem trechos de músicas do Raul...
Finalizando... Tinha 15 anos e fui ao cerimonial na Vila Alpina, acompanhei o maior cortejo que já vi para um artista popular e hoje, 30 anos sem raul, meu sentimento é um "Só" - Saudade"...
Hoje a crônica é bem pessoal, com características ligadas ao meu relacionamento com a obra dele. Não vi a necessidade de postar uma biografia, aliás, a internet está cheia de biografias do Raul: escolha a sua!
Texto escrito para as Colunas Musicais do GBV e do Blog Psicoversos...

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